O que Maitê Proença pensa de Portugal

Fiquei decepcionada ao ver este vídeo protagonizado pela actriz brasileira Maitê Proença que aproveitou o facto de estar em Portugal para uma peça de teatro, para ridicularizar o meu querido país, o meu amado povo e a nossa cultura.

Este vídeo de mau gosto foi passado no programa Saia Justa, da GNT, sob o pretexto pobre de gozar com os portugueses.GNT nunca mais!

Maitê não só mostrou um imenso desrespeito como também total ignorância acerca da História de Portugal .

Começa por Sintra, onde Maitê mostra a porta de uma casa com o número 3 virado para a direita “para provar que estava em Portugal” e, desconhecendo o significado esotérico deste símbolo, goza com o assunto! “O sujeito pensou para fazer isso!” – pois é verdade... infelizmente Maitê parece não ter inteligência suficiente para pensar no que estava a fazer.

Ela nem calcula que Sintra é uma vila (do distrito de Lisboa) com marcas culturais de uma riqueza surpreendente que cobrem vários séculos da história de Portugal.  Podemos encontrar em Sintra imensos monumentos, castelos e palácios sem esquecer que a Paisagem Cultural de Sintra está classificada como Património Mundial pela UNESCO.

Também deve ignorar que, no passado, Sintra foi um centro de reunião de intelectuais e políticos. Ali reuniam-se escritores, revolucionários e Ordens Herméticas – daí a vila estar repleta de símbolos que, a qualquer pessoa, despertariam no mínimo, curiosidade.

Também não deve ter a mínima noção do que é um estuário, onde o rio desagua no mar e ambos se confundem, e goza por isso com a denominação “mar” quando se refere ao estuário do Tejo.

O Monumento aos Descobrimentos que ela vê não foi “feito por Salazar”. O Padrão dos Descobrimentos é uma réplica daquele que foi encomendado por Salazar aos arquitectos Cottinelli Telmo (1897-1948) e Leopoldo de Almeida (1898-1975), para a Exposição do Mundo Português (1940), e desmontado em 1958.

Fala também de Salazar, de quem ela não sabe nada, imaginando que, por ter sido um ditador, foi igual a Hitler ou a Mussolini . Deveria ter-se informado de quantos anos António de Oliveira Salazar governou em Portugal.  “...mais de 20 anos” – disse Maitê.
Salazar foi Presidente do Conselho durante 48 anos.

No Mosteiro dos Jerónimos, goza com o túmulo de Luís Vaz de Camões, com o estilo arquitectónico manuelino, enfatizando o Manuel, nome injuriado no Brasil nas piadas de português.

Fala também do episódio no Hotel com o seu PC quando o Hotel tem áreas de Internet e, se tinha problemas com o seu computador pessoal, deveria usar o equipamento disponível no Hotel para os clientes. O Hotel não tem obrigação de reparar os equipamentos pessoais dos clientes, sejam PCs, carros, máquinas de barbear ou outra coisa qualquer.

No final do programa Saia Justa uma das apresentadoras leu um email enviado por Maitê quando estava em Portugal dizendo “não estou conseguindo enviar emails de Portugal”. O porteiro afinal resolveu o problema e pelos vistos o PC realmente deve parecer uma "coisa estranha"...mas aos olhos de Maitê Proença.
Como se tudo isto não bastasse, terminou o vídeo a cuspir num chafariz do Mosteiro dos Jerónimos.

Só lamento que a simpatia de tantos portugueses que, como eu, nutriam pela actriz e pelo seu trabalho, tenha sido traída desta forma. E lamento os euros gastos pelos portugueses para ver a peça de teatro da actriz que mostrou não merecer a consideração do público português.

Gostamos, admiramos e reconhecemos o valor de tantos artistas, poetas, actores e autores brasileiros e não é esta atitude de Maitê que vai mudar isso.

Espero agora que Maitê Proença ganhe vergonha na cara e não venha dar entrevistas a dizer que gosta muito de Portugal.
Até a hipocrisia tem limites!

Conheço vários brasileiros, inclusivamente neste blog tenho afinidade com várias brasileiras; com algumas nasceu uma amizade que quero preservar com muito carinho; nenhum dos brasileiros que eu conheço tem uma atitude sequer semelhante à da Maitê Proença, que com certeza, faz parte de uma minoria.

Gostava de acabar com a imagem estereotipada de Portugal que ainda existe na cabeça de algumas pessoas. Quem realmente conhece o nosso povo, a nossa História e a nossa cultura, não fala de nós como se fossemos ignorantes, iletrados com falta de classe e brio. Tenho orgulho em tantos portugueses que se destacam e marcam a diferença, não só em Portugal, como também internacionamente: escritores, pintores, actores, cientistas, bailarinos, desportistas, estilistas, artistas, jogadores de futebol,  realizadores de cinema, cantores, arquitectos, poetas, músicos, empresários.

Se alguma dessas pessoas pretender visitar o nosso país e quiser conhecer de facto a nossa cultura e o nosso povo, deverá chegar de mente aberta e sem nenhum conceito pré-concebido. Só assim conseguirá perceber a riqueza da nossa cultura e sentir verdadeiramente na pela a amabilidade deste meu povo tão acolhedor.

A coragem das caravelas, a voz sublime dos poetas, a alma do fado, o sabor da nossa cozinha, o paladar conventual, a curiosidade da ciência, o coração grande das nossas gentes...

Como diz o poeta Tomás Ribeiro somos um “Jardim da Europa à beira-mar plantado” mas temos uma alma sem fronteiras e tão grande como o sonho.



O Infante
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
Fernando Pessoa  (poeta português)

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